Sexta-feira, Junho 13, 2003
El GRECO ( 1541 -1614)
Desisti de contar mais sobre o Inquisidor Geral de Castilla, o humilde enviado do Senhor,Cardeal Cisneros.
Me dá náuseas…
Preferi falar de outros personagens de Toledo e decidi-me pelo magnífico
El Greco.
O BATISMO DE CRISTO
El Greco é considerado de “nacionalidade espanhola” embora nao tenha nascido aquí. Apesar de ser proveniente da ilha de Creta, Domênikos Theotokópoulos é considerado filho ” natural” de Toledo.
Sabe-se pouco sobre sua vida antes de estabelecer-se na cidade, em 1577. Apenas sugere-se que provavelmente iniciou o aprendizado de suas artes – era arquiteto, escultor e pintor – em sua terra natal. Pintava e esculpia ícones entre os monges bizantinos, e depois viajou à Itália para completar sua formaçao,entre os mestres Tiziano, Tintoretto e Miguel Angel.
TOLEDO, POR EL GRECO
Creio que El Greco elegeu Toledo como mae adotiva porque lá estavam as grandes tetas da Igreja.
Numa época em que apenas os nobres e os clérigos tinham dinheiro, o pintor buscou a ambos para triunfar e sobreviver. Dos nobres teve pouco retorno, pois o Rei Felipe II nao gostou das obras que encomendou ao pintor em Madrid.
Mas a Igreja Católica o adotou como uma loba, e foi seu grande mecenas, encomendando importantes obras para seus templos e monastérios.
Da vida privada de El Greco, pouco se sabe, exceto que manteve um romance com uma nobre de origem mourisca e teve com ela um filho.
Que gostava de gastar e viver bem, mantendo até músicos particulares, para que tocassem durante suas refeiçoes… Chic demais para um simples estrangeiro, sem eira nem beira…
E que, por seus gostos estravagantes, cobrava caro aos seus patroes.
Dizem que era humanista também. Quem sabe nao era por isso que cobrava caro? Assim podia empregar os músicos, que também morriam a míngua numa Toledo miserável e desumana, encrustrada nos montes e coalhada de monges de padres, de todas as ordens cristas da época.
Há documentos que atestam até mesmo demandas judiciais para cobrar o que lhe era devido, pois depois de pronto o serviço, os encomendadores queriam pagar menos, ou nao pagar, alegando que estavam “sem dinheiro”.
SÃO PAULO
Seu estilo é inconfundível, pois pintava caras encovadas e tristes, esquálidos e famintos mendigos, figuras desproporcionadas, de cores violentas e vibrantes, com olhos que miravam profundamente o expectador e pareciam perguntar-lhe se tinha consciência do que ocorria à sua volta…
SÃO JERÔNIMO
Mesmo quando seus quadros retratavam situações corriqueiras da arte sacra… os apóstolos, a anunciação, o batismo de cristo, a piedade, como tantos outros pintaram, os seus eram pessoas da rua, que podiam ser vistos em qualquer das muitas esquinas de Toledo.
O MUSEU EL GRECO
El Greco morreu com 73 anos. Sua antiga casa é um museu com seu nome, mas suas obras estão espalhadas pelo mundo.
E a mais famosa de todas, O Enterro do Senhor de Orgaz, considerada sua obra prima, está na Igreja de São Tomé, em Toledo. É um símbolo da cidade!
É claro que eu fui vê-lo. Colei num grupo de visitantes e “descolei ” grátis a explicação detalhada do quadro.
É o seguinte.: O Senhor de Orgaz foi um benfeitor dessa paróquia e dos monges augustinos de San Esteban. Chamava-se Don Gonzalo, e antes de morrer, em 1323, pediu para ser enterrado nesta igreja.
Conta a lenda de tantos milagres ( uma das muitas de Toledo) que San Esteban e San Augustin apareceram ao lado do corpo para depositá- lo em sua tumba.
O Senhor de Orgaz deixou também um legado à paróquia, a ser pago por seus descendentes. Isso não era uma lenda e foi feito até o ano de 1564. Mais de dois séculos pagando?
Pois é… até que os Orgaz decidiram estancar a ferida.
Hum…nem pensar. O pároco entrou na justiça e ganhou. E então resolveu melhorar as condições do túmulo de Don Gonzalo, afinal.
Uma das melhoras foi o quadro de El Greco, que escolheu a lenda milagrosa como tema para sua obra prima.
Na parte de cima, a alma do morto é como uma criança , recebida pela Virgem, São João Batista e São Pedro, com as chaves do céu. Santos e mortos esperam a chegada da bondosa alma de doador de don Gonzalo.
Na parte de baixo do quadro, os santos depositando o corpo, vestidos como bispo e diácono, com roupas douradas e ricas… ( compradas, naturalmente, com o dinheiro doado pelo benfeitor).
Uma fila de nobres da época do pintor e não da época da morte do sujeito, assistem ao enterro, olhando uns para os outros, ou para os céus e suas promessas. Outros para o morto, compreendendo talvez, o fim de nós todos, independente de qualquer poder material ou religioso…
O único da fila que olha para o expectador é o próprio El Greco. É o sétimo da esquerda para a direita.
Supõe-se que o menino pintado à esquerda do quadro é seu filho, pela data pintada num lenço em sua mão,1578, data de seu nascimento.
Os detalhes do quadro sao minunciosamente comentados pelo guia e as interpretações são muitas.
Mas o que senti olhando para o autor, é que me dizia: “Olhe em volta e veja o que está se passando.”
E vi… Um monte de turistas, pagando para entrar numa sala da Igreja de San Tomé e ver um único quadro. E penso que foi a forma de manter aberta, para sempre, a contribuição generosa de Gonzalo Orgaz aos seus queridos monjes… sob o olhar blasè de um mestre…
EL GRECO ( Detalhe do quadro acima)
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Quinta-feira, Junho 19, 2003
MAIS UMA VEZ… MADRID
Eu tenho duas grandes taras na vida…
Música e literatura.
O cinema vem logo depois, e a pintura ( muito longe de minhas posses, seja qual for a situação) fico de voyer mesmo. O máximo que consigo é comprar algumas gravuras que me apaixonam, nos museus que frequentei na vida…
Tenho muitas outras taras, não pensem que não. Mas as duas primeiras transbordam em mim e são quase sempre incontroláveis.
Nas épocas em que menos tenho dinheiro, são as que mais compro música , livros e vou ao cinema e as gravuras viram simples cartões…heheheh.
Antigamente fazia isso quase escondida, assistindo os filmes na hora do almoço, quando ninguém ia e aproveitando, assim como quem não quer nada, – só olhar – para “garimpar” na lojas de discos e nas livrarias, e miseravelmente encontrando, preços inconcebíveis para algumas joias raras.
Por exemplo? Obras Completas de Federico Garcia Lorca, por 20 contos ( que nem lembro qual era a moeda brasileira da época… e nem faz tanto tempo assim).
Uma vez comprei, por R$ 14,00, dois (2!!!) Cds de Csaba Onczay com as Suites de Bach para Violoncelo e trouxe-os escondidos na bolsa, para que ninguém em casa percebesse. ( morava sozinha… hahahah)
Comparava com os R$ 27,00 que outros da loja pagavam pelo último sucesso de Leandro e Leonardo e sorria, justificando minha irresponsabilidade por não ter ainda pago a conta da luz…
E lembro de muitos outros momentos, pois nunca fui rica, e sempre tirei de uma coisa para poder ter a outra. Sacrificava o supermercado, na maioria das vezes.
As outras coisas compráveis ficavam hibernando, mas acho essas taras afloravam com mais força, como um antídoto para o sentimento de angústia que vinha, sempre que a pobreza me mostrava sua cara de longos suspiros.
Quando estava bem de dinheiro (?), além das taras maiores, comprava sapatos, raros momentos, mas muito agradáveis também.
Bom… o que queria contar é que agora, que pela primeira vez na vida adulta estou sem trabalhar e logicamente sem dinheiro. Babo como um bulldog diante das livrarias e lojas de discos…
Além de babar, sinto um nó na garganta e respiro com dificuldade, quase como se estivesse indo para a forca. E em Madrid há dois verdadeiros cadafalsos para enforcar ainda mais a pobre tarada aquí… A Casa del Libro e a Fnac.
É de enlouquecer! Dá vontade de armar a barraca e viver alí para sempre.
Pois bem… para exercitar o autocontrole e o desprendimento zen que venho buscando pela vida a fora e evitar o auto engano ou a auto piedade destas fases, fui visitar a 62· ediçao da Feria Del Libro de Madrid, Encuentro de las Tres Culturas, no Parque del Retiro.
O exercício foi tão grande que comecei a tremer por dentro…
378 barraquinhas entulhadas de livros e mapas, novos e antigos!!!
E em quase todas, autores que dedicavam seus livros aos felizes comprantes…
Além de babar, comecei a gemer e grunir… hahahah.
Totalmente fora do controle, contei os trocados e comprei Vivir para Contarlo, de Garcia Marquez, dez euros mais barato que na loja. Estava lendo emprestado e não podia nem riscar. Agora vou ter que reler as 145 páginas já lidas, mas no meu livro! que bárbaro!
E usei um dinheiro antigo, guardado no fundo da carteira e doado pela minha prima para um presente, quando achei em Espanhol um livro que já estava esgotado em todas as livrarias. El Dia Que Nietzsche Lloró, de Irvin Yalom.
E a cara de bulldoga pidona foi tanta que ganhei Los Aires Difíciles, de Almudena Grandes ( com direito a didicatória especial da autora) e Los Pilares de La Tierra, de Ken Follet, para incentivar minha curiosidade pelos séculos XV e XVI.
Novos lançamentos sempre estão mais caros que os livros que já foram editados à tempos. Assim, evitei babar junto dos novos.
Os livros de história e de arte eram de uivar de ganas.. mas seria um exagero de minha parte, já que Pepe tem algumas dezenas na estante do gabinete.
Mas entre tantos, encontrei o meu. Chama-se Mulheres na Época do Renascimento. É sobre o comportamento das mulheres que se rebeleram de alguma forma aos domínios das regras sociais daquela época.
E estavam lá as minhas loucas e minhas bruxas, rameiras e santas…
Alguém escreveu meu livro!
Quando o encontrei já havia saqueado minha bolsa e a de Pepe também…. e restavam poucos euros. O estômago avisava que ainda íamos almoçar.
Esse ficará para a próxima seção de tortura zen…
Na saída, uma señora malvada ( como a bruxa da maça encantada) estava distribuindo sobre um balcão de madeira, seleções de poesias acompanhadas pelo CD, onde o autor recitava seus versos…
Tentei não olhar mas fui sugada por um deles.
Sobre uma capa negra: letras vermelhas de sangue… LORCA !!
Uma seleção de poemas, feita pelo também poeta espanhol, Rafael Alberti, que emprestava sua voz ao CD, na leitura emocionada das poesias do poeta granadino, assassinado durante a guerra civil espanhola.
O exercício budista foi totalmento suplantado pela fantasia de assaltar o Parque del Retiro à noite e…
Contamos mais uma vez os trocados de ambas as carteiras… e em vez de um almoço, dois bocadillos e duas cervejas foram uma festa fantástica para comemorar as 5 sacolitas.
Almas gêmeas até nas taras.
Ps. Algumas indicações para quem sofre da mesma síndrome:
Filmes: Juana, La Loca; Frida ; Hable con Ella
Música: Trilhas sonoras de Frida( com atençao especial a Chavela Vargas) e de Hable con Ella ( com atençao especial a Vicente Amigo); Concerto n· 1 para violino de Max Bruch (use um whiskinho “do bom” para garantir a sanidade logo no primeiro movimento)
Livro: Viver para Contarlo, Gabriel Garcia Marquez ( que “sabia o que ela pensava, pela mudança nos seus silêncios” )
Estou em pleno surto.
Sinal grave de pobreza… mas nem ligo!
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Terça-feira, Junho 24, 2003
GRANADA E GARCÍA LORCA…
Dia 28 vou à Granada…
Todos me dizem para ver a Alhambra… e o quanto é misteriosa e linda…
Eu vou. Eu quero. Já tenho até as entradas.
Mas o que eu realmente quero é sentir o perfume da Granada de Lorca. Sentir o aroma de suas poesias espalhado pelas laranjeiras das ruas.
Sempre tive fascinação por Lorca. Pela sonoridade de seus poemas, pela força apaixonada com que unia as palavras e criava as figuras das suas poesias.
Achei difícil ler sua obra… e muitas vezes fiquei sofrendo pela limitação de minha formação literária.
Quando estudava no antigo colégio de freiras francesas de Casa Forte, a leitura recomendada era M. Delly. Acreditam?
Pois sim… é como se mandassem as meninas de hoje ler Júlias e Sabrinas. E para as tristes e ridículas fichas de leitura, A Moreninha e Poliana.
Lembro que uma vez pedi para apresentar uma ficha do livro que estava lendo e me permitiram sem perguntar qual era. E apresentei uma ficha de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro.
Quase fui suspensa da escola. Levei bilhetinho para casa.
Entendi.
Bom, imaginem então o que vimos de poesia…nem lembro. Creio que passamos roçando de leve por cada um.
Mas voltando à Lorca. O poeta é de um povoado da região de Granada, chamado Fuentevaqueros. Nasceu em 1898 e morreu numa madrugada quente de Agosto de 1936.
Foi denunciado por algum invejoso, que no mínimo queria ser conhecido por ter entregue às milícias nacionalistas um grande artista espanhol. Graças a Deus ninguém sequer comenta seu nome. Dizem ter sido uma denúncia anônima. Dizem que foi assassinado por era homossexual.
É mais ou menos como o sujeito que matou John Lenon para ligar o próprio nome ao de seu ídolo. E, apesar de que muitos o sabem, ninguém o pronuncia.
Assim. Está certo.
O nome de Lorca está ligado aos que fizeram com ele arte. Dalí, Buñuel, Breton, de Falla… entre muitos outros.
Teve menos sorte que a maioria deles e foi sumariamente fuzilado, mesmo que não fosse de nenhum partido político, durante a guerra civil espanhola, às vesperas da II Guerra Mundial. Tinha só 38 anos.
Seu corpo nunca foi encontrado, mas sabe-se que está enterrado numa das milhares valas comuns espalhadas por toda a Espanha. Há uma frondosa árvore, perto de Córdoba, que recebe as flores destinadas ao seu espírito.
Parece que os regimes totalitários tem mais medo das inteligências que de qualquer outra coisa. Assim, os que não morreram, fugiram ou tiveram que calar-se e esconder-se.
Lorca tem muitas poesias e peças famosas e entre tantas, eu adoro as que escreveu pela morte de um amigo, o toureiro matador, Ignacio Sánchez Mejías.
O famoso e sedutor toureiro era escritor, poeta e amigo. Foi atingido por um touro, el Granadino, na Plaza Manzanares. A ferida gangrenou e ele morreu dois dias mais tarde.
Lorca diz que a morte já plantara ovos em sua ferida no dia 11 da Agosto de 1934. Agosto… novamente Agosto.
Vou publicar neste post a primeira delas. Tão maravilhosa que cresceu mais que a imagem do amigo…
Mas, como a boa arte é sábia nas associações, não se fala de um sem lembrar-se do outro…
Llanto por la muerte de Ignacio Sánchez Mejías
LA COGIDA Y LA MUERTE
A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro, solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!
A CORRIDA E A MORTE
Às 5 da tarde/ Eram 5 em ponto da tarde./ Um menino trouxe o branco lençol/ às 5 da tarde./ Uma esporta de cal já prevenida/ às 5 da tarde./ O demais era morte e só morte/às 5 da tarde./ O vento levou os algodoes/ às 5 da tarde./ E o óxido semeou cristal e níquel/ às 5 da tarde./ Já lutam a paloma e o leopardo/ às 5 da tarde./ E uma coxa com um chifre desolado/ às 5 da tarde./ Começaram os sons do bordao/ às 5 da tarde./ Os sinos de arsênico e a fumaça/ às 5 da tarde./ Nas esquinas grupos de silêncio/ às 5 da tarde./ E o touro, só coraçao para o alto! /às 5 da tarde./ Quando o suor de neve foi chegando/ às 5 da tarde,/ a morte pos ovos na ferida/ às 5 da tarde./ Às 5 da tarde. / Às 5 em ponto da tarde./ Um ataúde com rodas é a cama/ às 5 da tarde./ Ossos e flautas soam em seu ouvido/ às 5 da tarde./ O touro já mugia na sua frente/ às 5 da tarde. / Ao longe já vem a gangrena/ às 5 da tarde./ Trompa de lírio pelas verdes virilhas/ às 5 da tarde./ As feridas queimam como sóis/ às 5 da tarde,/ e a multidao rompia as janelas/ às 5 da tarde./ Às 5 da tarde./ Ai que terríveis 5 da tarde! / Eram as 5 em todos os relógios! / Eram as 5 em sombra da tarde!
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Quarta-feira, Junho 25, 2003
FEDERICO GARCÍA LORCA…
Poeta de muitos poetas… foi cantado por Neruda, Vinícius, Drumond, Albertí.
Aqui publico a segunda parte de seu pranto pelo amigo Ignácio Sanchez Majías, o toureiro.
Decidi fazer uma traduçao no final, para os amigos que nao entendem muito bem o idioma castellano.
Deleitem-se…
LA SANGRE DERRAMADA
¡Que no quiero verla!
Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.
¡Que no quiero verla!
La luna de par en par,
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras.
¡Que no quiero verla!
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!
¡Que no quiero verla!
La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!
Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!
No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un rio de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!
Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando:
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando con miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.
¡¡Yo no quiero verla!!
O SANGUE DERRAMADO
Que nao quero vê-lo!/ Diga a lua que venha, / que nao quero ver o sangue/ de Ignácio sobre a areia./ Que nao quero vê-lo!/ a lua de par em par,/ cavalo de nuvens quietas,/ e a praça cinza do sonho/ com salgueiros nas barreiras/ Que nao quero vê-lo!/Que minha lembrança se queima./ Avise aos jasmins/ com sua brancura pequena!/ Que nao quero vê-lo!/ A vaca do velho mundo/ passava sua triste língua/ sobre um rosto de sangues/ derramados na areia, / e os touros de Guisando, / quase morte e quase pedra,/ mugiram como dois séculos/ fartos de pisar a terra./ Nao./ Que nao quero vê-lo!/ Pelas grades sobe Ignácio/ com sua morte às costas./ Buscava o amanhecer,/ e o amanhecer nao era./ Busca seu perfil seguro,/ e o sonho o desorienta./ Buscava seu formoso corpo/ e encontrou seu sangue aberto./ Nao me diga que o veja!/ Nao quero sentir o chorro/ cada vez com menos força;/ esse chorro que ilumina/ os palanques e se tomba/ sobre o pano e o couro/ da multidao sedenta./ Quem me grita que me assome!/ Nao me digas que o veja!/ Nao se cerraram sua olhos/ quando viu os cornos perto,/ mas as maes terríveis/ levantaram a cabeça./ E através das vacarias,/ houve um ar de vozes secretas/ que gritavam a touros celestes,/ capatazes de pálida névoa./ Nao houve príncipe em Sevilla/ que comparar-se-lhe possa/ nem espada como sua espada,/ nem coraçao tao verdadeiro./
Como um rio de leoes/ sua maravilhosa força/ e como um torso de mármore/ sua desenhada prudência./ Ar de Roma anadaluza/ le dourava a cabeça/ onde seu riso era um nardo/ de sal e de inteligência./ Que grande toureiro na praça!/ Que grande serrano na serra!/ Que suave com as espigas!/ Que duro com as esporas! /Que terno com o orvalho!/ Que deslumbrante na Feira!/ Que tremendo com as últimas/ banderilhas de trevas! / Pero já dorme sem fim./ Já os musgos e a erva/ abrem com dedos seguros/ a flor de sua caveira./ E seu sangue já vem cantando:/ cantando por marismas e pradarias,/ resvalando por cornos entumecidos/ cambaleando sem alma pela névoa,/ tropeçando com milhares de patas/ como uma larga, escura, triste língua,/ para formar um charco de agonia / junto ao Guadalquivir das estrelas./ Oh! branco muro de Espanha!/ Oh! negro touro de pena! / Oh! sangue duro de Ignácio!/ Oh! rouxinol de suas veias! / Nao./ Nao quero vê-lo!/ Que nao há cálice que o contenha,/ que nao há andorinhas que o bebam,/ nao há geada de luz que o esfrie/ nao há canto nem dilúvio de azucenas,/ nao há cristal que o cubra de prata./
Nao./ Eu nao quero vê-lo!
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Quinta-feira, Junho 26, 2003
O ENORME PRANTO DO GRANDE POETA AINDA NAO ACABOU…
IGNACIO E FEDERICO… AMIGOS PARA SEMPRE.
CUERPO PRESENTE
La piedra es una frente donde los sueños gimen
sin tener agua curva ni cipreses helados.
La piedra es una espalda para llevar al tiempo
con árboles de lágrimas y cintas y planetas.
Yo he visto lluvias grises correr hacia las olas
levantando sus tiernos brazos acribillados,
para no ser cazadas por la piedra tendida
que desata sus miembros sin empapar la sangre.
Porque la piedra coge simientes y nublados,
esqueletos de alondras y lobos de penumbra;
pero no da sonidos, ni cristales, ni fuego,
sino plazas y plazas y otras plazas sin muros.
Ya está sobre la piedra Ignacio el bien nacido.
Ya se acabó; ¿qué pasa? Contemplad su figura:
la muerte le ha cubierto de pálidos azufres
y le ha puesto cabeza de oscuro minotauro.
Ya se acabó. La lluvia penetra por su boca.
El aire como loco deja su pecho hundido,
y el Amor, empapado con lágrimas de nieve
se calienta en la cumbre de las ganaderías.
¿Qué dicen? Un silencio con hedores reposa.
Estamos con un cuerpo presente que se esfuma,
con una forma clara que tuvo ruiseñores
y la vemos llenarse de agujeros sin fondo.
¿Quién arruga el sudario? ¡No es verdad lo que dice!
Aquí no canta nadie, ni llora en el rincón,
ni pica las espuelas, ni espanta la serpiente:
aquí no quiero más que los ojos redondos
para ver ese cuerpo sin posible descanso.
Yo quiero ver aquí los hombres de voz dura.
Los que doman caballos y dominan los ríos;
los hombres que les suena el esqueleto y cantan
con una boca llena de sol y pedernales.
Aquí quiero yo verlos. Delante de la piedra.
Delante de este cuerpo con las riendas quebradas.
Yo quiero que me enseñen dónde está la salida
para este capitán atado por la muerte.
Yo quiero que me enseñen un llanto como un río
que tenga dulces nieblas y profundas orillas,
para llevar el cuerpo de Ignacio y que se pierda
sin escuchar el doble resuello de los toros.
Que se pierda en la plaza redonda de la luna
que finge cuando niña doliente res inmóvil;
que se pierda en la noche sin canto de los peces
y en la maleza blanca del humo congelado.
No quiero que le tapen la cara con pañuelos
para que se acostumbre con la muerte que lleva.
Vete, Ignacio: No sientas el caliente bramido.
Duerme, vuela, reposa: ¡También se muere el mar!
CORPO PRESENTE
A pedra é uma fronte onde os sonhos gemem/ sem ter água curva nem ciprestes gelados./ A pedra é uma espalda para levar o tempo/ com árvores de lágrimas e fitas e planetas./ Eu vi chuvas cinzas correrem até as ondas/ levantando seus ternos braços crivado de feridas,/ para nao serem caçados pela pedra estendida/ que desata seus membros sem empapar o sangue. / Porque a pedra colhe sementes e nublados,/ esqueletos de calhondas e lobos de penumbra;/ mas nao dá sonidos, nem cristais, nem fogo,/ senao praças e praças e outras praças sem muros./ Já está sobre a pedra Ignácio o bem nascido./ Já se acabou; que passa? Contempla sua figura:/ a morte o cobriu de pálidos enxofres/ e lhe pos a cabeça de escuro minotauro./ Já se acabou. A chuva penetra em sua boca./ O ar como louco deixa seu peito abatido,/ e o Amor, empapado com lágrimas de neve/ se esquenta no cume das vacarias./ Que dizem? Um silêncio com fedores repousa./ Estamos com um corpo presente que se esfuma/ com uma forma clara que teve rouxinóis/ e a vemos encher-se de agulheiros sem fundo./ Quem enruga o sudário? Nao é verdade o que disse! / Aquí nao canta ninguém, nem chora o rincao,/ nem pica as esporas, nem espanta a serpente:/ aquí nao quero mais que os olhos redondos/ para ver esse corpo sem possível descanso./ Eu quero ver aquí os homens de voz dura./ Os que domam os cavalos e dominam os rios;/ os homens que lhes soam o esqueleto e cantam/ com uma boca plena de sol e pederneiras./ Aquí quero eu vê-los. Diante da pedra./ Diante deste corpo com as rédeas quebradas./ Eu quero que me mostrem onde está a saída/ para este capitao atado pela morte./ Eu quero que me mostrem um pranto como um rio/ que tenha doces névoas e profundas margens,/ para levar o corpo de Ignácio e que se perca/ sem escutar o duplo resfolego dos touros./ Que se perca na praça redonda da lua/ que finge quando menina enferma rês imóvel;/ que se perca na noite sem o canto dos peixes/ e na maldade branca da fumaça congelada./Nao quero que lhe tapem a cara com lenços/ para que se acostume com a morte que leva./ Vai-te, Ignácio: No sintas o quente bramido./ Dorme, voa, repousa: Também morre o mar!
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